domingo, 9 de agosto de 2009

Traição

Ela disse ter sede e eu voltei para buscar-lhe água montado em meu cavalo. Ela estava no dela com um sorriso rasgado e os olhos tinham uma expressão tão traiçoeira... enfim, desprezei isso bati as botas em meu alazão para que ele fosse mais rápido, tudo para que ela esperasse menos para ter aquilo que me fora solicitado.
E ia o meu dócil animal, aparentemente feliz, bravio, até que se curva para trás afundando sem parar e lentamente naquela areia fria.
Traí-o; levantei-me dele, voltei-me para trás e dei o salto mais largo que podia... foi inútil. Agora meu animal já tinha afundado completamente e restava só a mim, aliás, apenas meio de mim naquela imensidão branca em meio àquela tempestade gelada de areia.
Ahhhh, mas onde estaria agora sua beleza? Onde estaria agora todo seu sentimento por mim? Sumira? Estendi-lhe o braço pedindo ajuda e ela tampou os lábios com uma das mãos. A lua se progetava atrás dela gigantemente e, com muita ironia, formava uma espécie de esplendor. Cerrei meus lábios ressecados. Onde estaria agora toda a minha força, astúcia e inteligência? Como tivera sido tão tolo? E quanto mais eu me movia, mais afundava...
Pus-me inerte. Deixei que a natureza tomasse o seu curso e pude ver ela me olhar inexpressiva enquanto eu dizia lamúrias com os olhos.

Por fim, afundei. "A ele, meu senhor, que tivera sido tão sutil quanto a víbora que sobe sutilmente a vítima só para mordê-la no pescoço" ela disse e tomou rumo de sua jornada, agora apenas ela e seu próprio cavalo.

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