quarta-feira, 29 de julho de 2009

Em uma partida de xadrez...

Pôs-me em cheque e me fitou com o rosto ainda voltado para baixo. Do tabuleiro para seu rosto movi o meu olhar e com a voz baixa, mas forte, sentenciei:
- Você joga da mesma forma que eu.
Fez uma expressão tão discreta de dúvida unida a felicidade e medo que se encerrou em dois segundo, mais ou menos, enquanto que eu não tirei os meus olhos dos seus. Estávamos bem ali, aparentemente.
Sacrifiquei uma peça minha, a única torre que me restava, para que tudo no jogo corresse bem e ele recuou. Compreendi a sua tática: estava tentando atrair meu rei para onde ele pudesse tê-lo sem risco. Posicionei minhas peças em defesa de sua tática e avancei o rei. Pouco a pouco, nossas peças iam sumindo do tabuleiro até restarem somente dama e rei. De fora do tabuleiro, os bispos nos condenavam, os peões, coitados, ofendiam-se com tudo em nós dois, mas o que um peão acha que é perante nós dois, rei e rainha?
E assim se deu o jogo: cheques e cheques sem nunca ter tido um fim ou um ápice. Cada vez que eu o intimava, logo ele tratou de se esquivar ileso enquanto as outras peças mal podiam ter percebido isso.

Suponho que tenhamos que declarar empate, apertar-mo-nos as mãos e ir cada um para um adversário novo.

Amém.

Um comentário:

  1. ÓTIMO!
    Ainda quem esteja de fora de todo o acontecimento, e tenha ao menos um mínimo de pensamento além do que aparatemente seu texto fala, percebe o toque agudo de analogia e o melhor é que aguça a imaginação do leitor, livre idéias de interpretação.

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